terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ad infinitum

isso não vai se repetir


repito!


- isso não vai se repetir.


(repito)

ISSO não vai se SE REPETIR


(...)

vai repetir

repito


(...)


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

a chegada das divas naquela tal cidade daquele tal prefeito

Charles e eu estivemos à frente da aula do dia 10 de novembro, segunda feira. Tem sido bom compartilhar a condução das oficinas com os meninos: Charles esteve comigo hoje e na quinta feira passada, dia 06. Helaine estará conosco a partir da próxima segunda feira, 17. Partilhar a condução dos encontros com os dois tem ajudado a encontrarmos as preciosidades da aula que sozinho eu poderia não perceber. Além disso, estarmos em dupla, colabora com a feitura dos registros (escritos e fotográficos) das impressões, ideias, críticas e associações durante a aula, colhidos com o frescor do momento.


Como combinado, o Charles proporia as atividades do dia e eu estaria por ali para  apoiá-lo ao longo do encontro. Como vem sendo de praxe nas segundas-feiras, o auditório da escola estava ocupado. Sorte nossa é que havia uma das salas de aula desocupada: a de número 13, no segundo andar do Adelina. No total estiveram presentes 8 alunos: “saímos da linha da pobreza”, comentou o Thierry. Tenho brincado sempre com essa expressão (“Sair da linha da pobreza)” para comentar quando temos conosco mais de seis participantes. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

que rumos são esses?

Ficamos sem o auditório durante dois encontros: somente na quinta feira passada, dia 30, é que voltamos para o "nosso lugar" dentro da escola. O nosso canto... 

***

Eu já planejei começar este texto diversas vezes. 
E em nenhum dos planos ele começava assim: falando da nossa alternância de espaços.
Ensaiei como escrevê-lo em várias ocasiões nestes últimos dias. Não queria ter deixado acumular "coisas para contar". Eu gosto muito de compartilhar aqui as descobertas frescas. No dia. Mas não deu: o cotidiano tem me engolido - e a preguiça, por vezes,  também.

***

Na segunda feira passada, dia 27, naquela ressaca pós-alma-lavada pela vitória da Dilma, nossa aula aconteceu no laboratório da escola. Estavam presentes a Beatriz, o Yuri, a Brenda, o Willian, a Stéfany e a Camila. O auditório estava ocupado por um pessoal da Secretária Municipal de Saúde e mais uma vez tivemos de improvisar nosso espaço. Ao contrário do encontro anterior - o da quinta feira, dia 24 - não havia na escola sala desocupada: só o apertado laboratório. Nele, há seis balcões com pias, um esqueleto, uma vitrine com bichos conservados em potes de maionese com formol ou álcool, várias garrafas pet's cortadas, cartazes retratando o interior do corpo humano com setas assinalando o nome de cada nervo, veias e órgãos. Algumas pepitas. Um galão azul... 

É um espaço apertado, sobretudo. Quando entramos nele o relógio já marcava 09h35. Minha primeira reação foi tentar imaginar uma aula para aquele espaço, naquele aperto. Lembrei do grupo de teatro Vertigem e também do Invertido: o primeiro, famoso por seus espetáculos que se apropriam de espaços não convencionais para conceber seus espetáculos e o segundo por também já ter realizado uma peça em um laboratório abandonado da UFMG, o Medeia Zona Morta... Tentei elaborar uma improvisação com os alunos que fizesse aquele espaço conversar conosco, com o teatro que temos feito nesses últimos encontros.

Na aula anterior, o motivo da nossa saída do auditório era: muitos professores faltaram naquela manhã e a direção precisou unir as turmas e não havia espaço na escola para comportar aquelas junções senão no auditório - também conhecido pelas professoras como sala de vídeo. Tentei, a princípio, argumentar com a Vânia (diretora do Adelina) utilizando o nosso combinado feito antes do nosso projeto começar a funcionar - a garantia daquela sala na segunda e na quinta, de nove às onze horas. Nisso, os quase 50 alunos aguardavam para entrar na sala e a professora responsável não parava de repetir: "não tenho para onde ir com essa meninada" e "a biblioteca não nos cabe". 

Teimei mais um bocado antes de ceder. Esclareço o porquê desse meu comportamento: durante o funcionamento do Escola da Gente (2010-2012) a aula de Teatro NUNCA contou com um espaço fixo na escola. 



***

Nossa turma vai bem, obrigado: continuamos mantendo a média de sete alunos por aula. Mas no total nós hoje podemos contar com 10 meninos. A cada encontro, temos a 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O teatro deles

Estou do lado de fora da sala e agora escrevo durante os dez minutos dados aos seis alunos presentes no nosso encontro de hoje para eles se prepararem  para me mostrar 'o teatro deles'. É que quero ver o que é isso que eles estão chamando de "teatro de verdade": aquele que de dez em dez minutos eles me perguntam quando é que nós vamos fazer.

Eu entendo essa ansiedade: eu também  já provei dela, na idade deles, quando ingressei no curso de iniciação teatral, há dez anos, na ARCA (Associação de reintegração da criança e do adolescente), em Betim. Queria saber quando começaríamos a fazer cenas, decorar textos, usar figurino, chamar pai e mãe para ver nossas apresentações, ouvir os aplausos e no outro dia fazer tudo de novo. "Tanta brincadeira pra que?", talvez eu me perguntasse naquela primeira fase de jogos teatrais, "Vamos fazer teatro logo!"

***

O dia em Betim começou assim, abafado - por causa e apesar da chuva do final de semana. Amanheceu mais cedo: é a primeira segunda do horário de verão! Dureza... Dormi pouco nessa noite. Acordei às quatro porque tinha o projeto de ocupação do teatro João Ceschiatti (BH) para escrever. Tentei fazer algo até a hora que dava e saí correndo, rumo à Betim. Não consegui pegar o ônibus que me deixa na porta da escola, o 7430. Peguei o 3293, que me deixa longe, lá na BR. Vim cochilando. Durante o percurso que realizei do lugar onde desci até a escola, repassei o plano de aula: Começaria com um jogo, uma espécie de "E se..":

e se estivéssemos caminhando lá na lua, ou dando passos de gigantes... E se estivéssemos correndo de uma fera, ou andando bem devagar para que ela não percebesse nenhum dos nossos movimentos. Como é caminhar sem querer ser notado por um bicho sedento por nos devorar? Como é fugir desse bicho, em desespero? O que muda no corpo da gente?

E por aí iríamos. 

De acordo ainda com as minhas propostas para o dia - e como havia ficado acertado na última conversa com o Charles - hoje eu apresentaria para os meninos as obras d'Os gêmeos. Em seguida, faríamos uma primeira improvisação a partir das imagens dos grafiteiros. Qual tipo de improvisação? Com fala ou sem fala? Quadros vivos? Isso eu descobriria no momento, com eles, tentando entender para onde o vento da disponibilidade dos meninos soprava.

***
9h25: Deividson é o único menino presente. O Thierry - acho que é assim mesmo que o colega dele chama - hoje não quis/pode vir, o Deividson me conta. Hoje era natação na "escola da gente" e ele não quis perder.

Rio por dentro: "escola da gente" é o nome escolhido para batizar o modelo de educação integral, adotado pelo governo municipal anterior. Não sei exatamente quantas crianças o projeto atendia, mas sei dos duzentos meninos atendidos ali no Adelina versus os talvez nem setenta participantes dos dias de hoje. Extinguir a "Escola da gente" foi um dos primeiros atos do prefeito Carlaile Pedrosa (PSDB) ao assumir, pela terceira vez, a prefeitura. Prometeu, na época da eleição, reformular a proposta e ampliar o programa para mais crianças, em outras escolas: de fato ele reformulou. Se antes as artes tinha lugar garantido na grade curricular dos meninos, hoje ela nem passa perto. Numericamente também são bem menos crianças atendidas pela proposta. Como já disse, nem metade da metade da metade. A infraestrutura continua precária, quase inexistente. Pelo que sei, hoje os alunos tem aula de esporte e reforço escolar. Ao meu ver, acabaram com o "Escola da Gente". Essa mania porca dos governistas de jogar a água da bacia fora com o bebê lá dentro. Espera! Eu disse acabaram? (é por isso que rio por dentro). Em tese sim, destruíram. Mas aquele velho programa - tão criticado, mas ao meu ver tão mais interessante - continua existindo no imaginário dos alunos... "Hoje ele foi nadar no escola da gente". 

Chegam as outras meninas e a sala está muito suja, desarrumada: peço para Bia buscar vassouras - ela consegue duas - e começamos a organizar o espaço. Não é normal o auditório estar sujo assim, mas hoje é o primeiro dia de aula após uma semana de recesso e por isso tanta sujeira. As meninas da limpeza ainda não haviam passado por aquela sala. Sem problemas, nós limpamos: já é a primeira atividade coletiva da turma e uma forma de nos reconectar com os encontros anteriores - como é que essa sala fica organizada para a aula de teatro mesmo?

Por falar em reconectar, já em roda, peço para Beatriz nos mostrar o seu registro: é o primeiro no nosso "caderno-de-artista-ainda-sem-nome". Eles me contam: "ainda vamos decidir como ele vai se chamar". A Bia então nos mostra o seu feito: três linhas escritas com uma caneta azul e um palhaço cachorro desenhado no final. Se eu bem me lembro estava escrito: "As aulas tem sido muito boas e eu não tenho nada a reclamar." E, em seguida, o palhaço-meio-palhaço-mas-também-meio-cão. Pergunto quem gostaria de fazer o registro da aula de hoje e... silêncio. Pergunto novamente, ninguém se voluntaria, eles olham uns para os outros, riem, silêncio e a Monique toma a palavra: "eu levo!"

Penso: no dia que ninguém quiser levar, nós professores levamos e registramos. (?!)
Mas não é um caderno deles?!
Uma interferência nossa já muda tudo de figura: passa a ser um caderno "nosso", não sei...
Des-penso.

***
Ai que sono!

***
Temos um som!
Não nosso, do projeto: é um emprestado pela escola. Com entrada USB. Meio complicado e pouco burocrático para funcionar, ler as pastas do meu MP4. Não consegue reconhecer os arquivos do meu celular. Logo hoje que trouxe o álbum de um artista chamado Parov Stelar, super dançante... Não leu. Mas tocou o bom e velho Yann Tiersen - presença garantida entre as minhas trilhas de dia de aula. Para o próximo encontro eu posso levar um Tom Zé, um Barbatuques, o próprio Parov Stelar... Mas no MP4. 

Sugiro: vamos deitar no chão?
Eles se recusam.
Também pudera: apesar de varremos a sala, faltou passar um pano, mas aí não daria tempo. Agora escrevendo, penso que deveria ter dado-tempo ao pano sim. Era a continuidade da nossa primeira atividade coletiva e uma aproximação maior do nosso "lugar ideal" para fazer teatro, no Adelina. O chão precisa estar completamente limpo? Se sim, então da próxima vez passaremos o pano. É função do grupo - penso - prezar por este espaço. Fica combinado de ser nosso ritual de início da aula, caso as condições do lugar não colabore.

Então não nos deitamos no chão: sentamos. Peço para eles fecharem os olhos. Ponho uma música para nós escutarmos - é, como já disse, uma do Yann Tiersen. Do álbum "Good bye, Lenin". Há risinhos e uma conversa paralela - interminável - da Stefani com a Bia: é quase um cochicho, mas sem fim. Toda hora que olho para as duas elas estão conversando, não tem jeito! 

Pessoal, agora nós vamos só escutar a música. E isso é muito difícil mesmo, mas não custa tentar, Bia!

A canção acaba, já veio outra e estamos caminhando pelo espaço: aí o e "E se..." vem à tona e preenche a sala com teatralidade. A turma, para esse tipo de proposta, tem se mostrado muito aberta. Vou narrando os acontecimentos e eles materializam tudo nos corpos. Vivemos um momento de "e se fôssemos furacões, folhas secas, redemoinho?" (há diferença entre o furacão e o redemoinho?!). Utilizo os "es-ses" pensados antes da aula. Há uma fera atrás de nós. Ela não pode perceber que estamos caminhando, nem com medo dela. Agora não tem mais jeito, nós precisamos fugir... E fugimos.

No meio da "fuga", trago um outro enunciado: Monique é o carrasco! Começamos então este jogo de pegador e o interrompo quando os primeiros começam a deixar o jogo, por terem sido pegos: voltamos a fugir, sem querer ser percebidos, das feras. 

Em seguida, realizo o "Pegador com explosão": é um jogo da Viola Spollin que aprendi com a Gláucia Vandveld, no núcleo de Teatro para educadores, no Galpão Cine Horto. Ele é assim: Há um pegador entre nós. Quando ele pega alguém, acaba explodindo no lugar onde cumpriu sua tarefa! (Como é este explodir do pegador?!) e fica no lugar onde explodiu. O "pegado" se torna o novo pegador e, com o tempo, os explodidos vão se tornando obstáculos para a correria. Eles gostam. Querem repetir. Se tivesse mais gente, seria mais legal. O espaço ficaria mais preenchido com outros obstáculos...

Somos nós sete: eu e os seis. Caminhamos pelo espaço e precisamos ocupá-lo. Provoco: Quanto o nosso corpo precisa ser grande para ocupar o maior espaço possível dessa nossa sala?

me pergunto agora: E para se fazer presente hoje no mundo?! Pra se fazer ouvir?! Quanto de grande a gente precisa ser?!


Prosseguimos: apresento aos meninos o jogo do "Onde", também da Viola Spollin. Falo para eles da possibilidade de ser criar no invisível, sem o auxílio de objetos ou de cenários. Proponho para a turma o seguinte: nos dividirmos entre espectadores e atuantes. No espaço de jogo - palco - o jogador - atuante - precisa, com ações, mostrar qual LUGAR - onde - está. Dou o exemplo: entro em um banheiro e começo a escovar os meus dentes. Os meninos dizem ter entendido. Passo a bola para eles.

O mesmo silêncio de quando perguntei "quem vai levar o caderno" paira sobre a turma. Ninguém quer ir! "Vai, fulano."; "Eu estou sem ideia..."; "Não estou conseguindo pensar em nada..." são frases que eu ouço. Me perguntam: pode dupla? Eu permito. O jogo, por vezes, acontece, mas pouco vivo - meio sem vontade, ou com mais vontade de estar sentado, assistindo. Sou eu que estou cheio de expectativas ou de fato teria de ter puxado/incentivado um pouco mais? 

Proponho então um outro jogo: a história em 4 imagens. Inspirado nas últimas histórias das revistinhas da Turma da Mônica (contadas em 3 quadrinhos), peço para que eles pensem em uma situação e a divida em 4 momentos/imagens e mostrem para a turma. Novamente dou o exemplo: COMO UMA MAÇÃ > ME SINTO MAU > CORRO PARA O BANHEIRO > NO BANHEIRO, ME ALIVIO. 

Deividson e Monique se arriscam e vão. Com muita resistência, a Stéfany vai também. Mudo o comando: peço para todos caminharem pelo espaço com suas situações "em mente". "Vou bater 4 palmas - anuncio. Na palma 1, vocês fazem a primeira imagem da situação escolhida e assim por diante, ok?"

Nisso uma outra aluna - que me foge agora da memória o nome dela (preciso fazer uma chamada!) - havia chegado. Se dispôs a "entrar" nesse jogo, mas hoje, decididamente, a aula parecia estar sem energia, não queria acontecer. O jogo das "4 imagens" estava murchinho... Eles caminhavam e, em cada palma, mostravam um novo momento congelado de suas situações. Chegamos ao final da proposta. Decidi que não faríamos uma mostra para os colegas - ou seja, cada hora um ir na área de jogo mostrar o seu. Estava com a impressão que nada individual hoje renderia.

Dividi os sete em dois grupos e entreguei os dois livros d'Os gêmeos para eles conhecerem as obras de arte dos irmãos paulistas Gustavo e Otávio Pandolfo. Naquele primeiro momento com os livros era para folhear livremente, apreciando os grafites e instalações registrados naquelas duas obras. Em seguida, fui acrescentando alguns comandos: "tentem memorizar a página com a imagem que mais chamar a atenção de vocês...". Pedi também para terem muito carinho com os dois livros, pois eles pertencem ao nosso amigo Fabrício Trindade. 

Pensei em sugerir uma improvisação a partir das imagens, mas mostrar daquele jeito que fiz os livros parecia não ter gerado nenhuma empatia nos sete.Peguntei: "alguma coisa chamou a atenção de vocês" e, com algum custo, a Monique apontou uma obra. Foi aí que alguém perguntou: "Hoje vamos fazer teatro, professor?"

***
Mostraram a cena:
O roteiro dela é:
Duas garotas caminham e de repente são assaltadas por dois assaltantes. Policiais chegam e começam uma troca de tiros com os meliantes. Todos, com exceção de uma das assaltadas, morrem.  

Chama a minha atenção principalmente o fato do Deividson ter me pedido para escolher uma música - dentre aquelas que usei hoje - de mistério para a cena. Ele escolheu uma e lá estava ela, fazendo colorindo a sonoplastia do trabalho deles. 

Antes de nos despedir, eles me contaram como o Charles havia finalizado a aula anterior. Hoje fizemos uma pequena mudança no "PULAR EM DIAGONAL GRITANDO A PALAVRA ESCOLHIDA PELA TURMA": Como o grupo escolheu duas palavras - VERGONHA e ALEGRIA - nós combinamos o seguinte - atravessaríamos a sala, em diagonal, pulando, enquanto gritávamos ALEGRIA. Voltaríamos para o ponto 0, rodopiando, dizendo VERGONHA.

Chegamos ao fim do encontro.

Tempo mais abafado.

P.S: Pedi para cada um trazer na próxima aula uma música que eles gostassem muito. Uma "Música da vida de vocês... Uma que fale sobre vocês"...

"sei lá, professor"
"é difícil" 
"tem de ser escrita?"

Aí eu disse:

"Uma versão escrita e outra pra gente ouvir aqui, juntos".

E então nos despedimos. 




sexta-feira, 10 de outubro de 2014

teatralidade

_TEATRALIDADE

pensar sempre em levar para os nossos encontros propostas ricas em TEATRALIDADE


Para Josette Féral, teatralidade “parece ser um processo, uma produção que primeiro se refere ao olhar que postula e cria um “espaço outro”, deixando lugar para que a ficção possa emergir. Este espaço é o resultado de um ato consciente que pode partir do “performer” – no sentido mais amplo do termo - ou do espectador cujo olhar cria uma divisão espacial onde pode emergir a ilusão e que pode se dirigir indistintamente sobre os fatos, os comportamentos, os corpos, os objetos e o espaço tanto do cotidiano como da ficção” (FÉRAL apud BELONNI, 2009, pág .219)



quinta-feira, 9 de outubro de 2014

 Ponto de partida 

Inauguro hoje minha fala no Blog após a minha terceira ida até a escola e segundo encontro prático com a turma. Primeiro ressalto o entusiasmo gerado em mim pela disponibilidade daqueles que foram. Apesar do número não ser grandioso me senti feliz por ter aquela turma formada.  Estamos estudando a possibilidade de fazermos uma segunda chamada para o projeto, mas me pego pensando no processo iniciado, nos dois encontros já realizados e naquilo que a turma já vem construindo enquanto experiência e repertório coletivamente.



Quinta feira, 09 de Outubro de 2014

Prosseguia para a escola Adelina motivado com a boa recepção dos corajosos que  escolheram embarcar nessa nossa aventura teatral cheia de muitos desejos e desafios a serem realizados durante os seis meses do projeto.  No Ônibus repassei as propostas elaboradas para o encontro. Decidi retomar alguns jogos realizados na segunda feira ( 07 de outubro ) no intuito de aprofundar a experiência vivida, traçar novos contornos ao que foi feito, pensar na aquisição de repertorio  através da repetição e buscando suscitar na turma o sentido de apropriação de elementos e vocabulários teatrais.  Para finalizar decidi que eles teriam o primeiro momento de criação coletiva longe dos olhos do professor. 
Diferente do encontro anterior trabalharia com a turma durante as duas horas seguidas ( 09h às 11h).  Cheguei à escola, organizei o auditório, troquei de roupa e esperei de 09h até 09h10. Nenhum dos meninos e meninas apareceram nesse tempo.  Fui tomado por aquela sensação comum ao professor de que ninguém chegará.  Eis que surge  Lariane! Sensação de alívio (uma não desistiu). Logo em seguida chega mais dois, três e iniciamos nosso encontro às 09h25. Total de presentes  9, contando com a  Carolaine que chegou as 10h.

Presentes:

Stefany
Betriz
Iury
Deivisson  (novato)
Thierry (novato)
Lariane
Brenda
Monik
Carolaine (novata)

BREVE AQUECIMENTO E ALONGAMENTO

É preciso acordar esses corpos que carregam resquícios de “quero dormir mais”.I niciamos com uma grande roda. Mãos dadas. corpo pesa pra trás. equilíbrio. Olho no olho. Muitos sorrisos.  Proponho um breve alongamento e aquecimento do corpo sempre remetendo à imagens :  temos em nossa frente duas torneiras, vamos abri-las com as duas mãos. Força! Agora vamos nos dar um forte abraço. Vamos tocar/pegar um objeto no alto do armário. Primeiro uma mão, em seguida a outra. Agora vamos tocar o céu, as nuvens.  

ZIP ZAP – Variações

Proponho em seguida retomarmos o zip zap indo direto para a fase dois, dizendo o seu próprio nome. Muitos erram. Grande é a desconcentração. Precisamos progredir gradativamente instaurando uma atenção mais difusa.  Avançamos para a fase três (dizer o nome do colega para qual envio o zip/zap) e quatro ( dizer o nome de quem a pessoa para qual envio o zip/zap deve direcionar o seu zip/zap).  A confusão é maior, parto então para outra proposta.

JOGO DO NÚMERO

Ainda em roda contaremos até 10, porém não iremos definir a ordem. Qualquer um pode falar um número. O nosso objetivo é contar até 10.  Reforço a importância do olho no olho para conseguirmos alcançar o desejado. Meninas e meninos ansiosos! Não saímos do número 2. Ficamos por um longo tempo imersos no jogo.  Reforço aquilo que aprendemos no encontro passado “Gente! Precisamos de escuta. Lembra daquilo que falei sobre o que significa escuta? Que vai além de ouvir auditivamente? Se olhem mais antes de falar o número”.   Dica dada, chegamos ao número 5.  
Troca rápida de jogo! Vamos para o CARRASCO!
Limito o espaço, reforços os nomes e as regras do jogo para aqueles que chegaram agora e partimos para o ataque.  A retomada ao carrasco traz um novo brilho. Ouço mais claramente os nomes, corpos disponíveis, raciocínio rápido. No calor do jogo peço para que formemos rapidamente uma roda. Retomo o jogo dos números. Chegamos até o 7 sem errar.
Voltamos ao carrasco! Fazemos uma rodada e retornamos a roda para cumprir o objetivo de contar até 10. Conseguimos! Muitos pulos de felicidade.
Todos sentados e conversamos brevemente sobre o jogo.   Pergunto a dificuldade desse exercício e alguém fala da ansiedade de falar primeiro.

CONTAR UMA HISTÓRIA COM UMA PALAVRA SÓ

Parto então para o próximo exercício.  Explico as regras que são simples: Iremos contar uma história na qual cada fale uma palavra e o próximo vai completando. É necessário buscar a criação de frases e completando aquilo que outro disse, buscando manter sentido.  Criamos duas histórias interessantes: a de uma mãe que virou vaca enquanto estava passeando pelo quintal e a de um jardim escuro e tenebroso habitado por dragões.  O meu desejo com o jogo era de envolvê-los numa primeira criação fabular de um modo coletivo, sem protagonismo ou constrangimentos.  Dou nome a essa história que contamos de fábula e também nomeio de um tipo dramaturgia. Cito referências comuns sobre o que vem a ser dramaturgia.  É preciso repertoriar, penso eu.

Continuando no campo da criação parto para o jogo do PRESENTE IMAGINÁRIO.  Divido em duplas e um trio cada um presenteia um ao outro com algo imaginário. O modo como o presenteado utilizar o objeto nos dará a dimensão do que ele ganhou.  Estabelecemos novamente a relação palco-plateia e prestigiamos a troca de presentes. Friso: Busquem mostrar no corpo de vocês aquilo que não pode ser dito. Quanto mais presente no corpo mais claro ficará para o público/espectador.  Desse jogo surgem bonés,calças,cintos e telefones.
Peço à todos que sentem-se na plateia. Coloco um tecido azul no meio da sala.  Agora temos um material físico, real mas que não pode ser utilizado apenas como o que ele já é.   A forma como vocês utilizarem indicará no que você transformou o pedaço de tecido. 
Quem quer começar? Cinco levantam. Peço que todos retornem a cadeira.

“Lembram do jogo do número?  A vontade de falar primeiro é mesma do que essa de levantar primeiro. É como se estivéssemos jogando novamente, porém sentados e sem falar.   Sempre que mais de um levantar, todos sentam. Apenas quando um levantar iremos ao jogo.”

Três levantam. Dois se sentam para apenas um ir. 

O primeiro cria desenhos no chão moldando o tecido.

O segundo repete a proposta do colega anterior.

Sugiro “ explorem mais o tecido. No teatro ele pode se qualquer coisa. Lembre-se disso”

Aparece um cachecol, depois um rato, uma saia , um turbante.
Troco o material . Agora temos um grande fone de ouvido, desses modelos antigos.   Eles o transformam em celular, cinto, chifres, colar. 

Para finalizar retornamos ao Jogo dos QUADROS VIVOS (tableau vivant).  Sugiro o espaço.  Busco lugares que possibilitam imagens diversas  tais como “Hospital, “eu na minha casa” e menos convencional “objetos femininos  de beleza”.

É notória a potência desse jogo que ao mesmo tempo em que os divertem se mostra repleto de possibilidades e inventividade. Ver a transformação do corpo em objetos, ver mãos, pés, e cabeças engajadas em posições nada convencionais ou naturais é interessante.  Peço para criem um grande quadro. O tema foi livre, eles escolheram e criaram enquanto em me ausentava por alguns minutos da sala. Ao retornar a grande imagem era um ônibus, conduzido por um motorista que ao descongelar fazia curvas perigosas, composto também por portas humanas, um usuário dando sinal, uma trocadora, uma roleta humana e pessoas sentadas nos bancos.  O descongelar da imagem também era um ponto forte da proposta da turma, que havia pensando inclusive curtas falas.

 Fim do encontro,roda de conversa.  Dou alguns recados sobre o nosso próximo encontro (previsto para o dia 20 de outubro, devido à semana da criança) e entrego nas mãos da Beatriz o nosso caderno de registros . Eles sugerem de dar um nome ao caderno e também querem logo transformar a capa cinza em algo mais colorido. Nomes citados: Cadernos dos sonhos, turma da risadinha.  Deixei a possibilidade no ar.


Palavra do dia: ansiedade ( além de: sonhos, alegria, felicidade, risadinha). Em diagonal cada um grita a palavra escolhida repetidas vezes  enquanto pula e gira até a outra ponta da sala.  A situação e divertida de ser assistida. Depois em roda gritamos a palavra após contarmos até 10.